segunda-feira, 1 de setembro de 2014

circuncisão

A primeira vez que eu ouvi falar dessa coisa ai, eu já era um ser grande, alto, homem. Nem sequer me ligava que alguém poderia ser capaz de tal atrocidade. Foi uma amiga, judia. Falou com a maior naturalidade do mundo e eu indaguei. Que parada é essa ai? Ela riu, zuou da minha ignorância, e explicou. Fiquei assustado. Mesmo. Quem seria capaz de fazer algo desses com uma criança?! Com algumas gotas de vinho! Eu bebia uns três copos e ficaria maluco se me dessem um tapa na cara, imagina cortarem a tampa do meu p....? (E quando ela explicou, foi isso mesmo que entendi: cortar a cabeça fora – na época, ainda em aflição com o assunto “tamanho é documento”, decidi que jamais faria isso – e nunca fiz – e que eu sempre teria mais chances que os judeus, já que por alguma barbárie, tiravam uns 2, 3 centímetros de pênis).
            O tempo passou e resolvi guardar esse assunto na pasta “Lixo” do meu cérebro. Foi uma sábia decisão excluir esse tópico masoquista. Mas aí o maldito tema voltou: outra amiga judia (elas pareciam insistir. Algum tipo de conversão religiosa forçada?). Ela me falou que hoje em dia é tudo diferente: tem cirurgia, clean, rápido, rabino vai lá, dá adeus para a pele, não para a cabeça (o que me aliviou, mas colocou novamente os judeus no mesmo patamar de “tamanho é documento” – a competição aumentou). Confesso que fiquei mais aliviado e até cogitei, quem sabe um dia, cuidar melhor do meu parceiro e tirar o “gorro-de-malandro-que-encapuza-a-cabeça”.  Claro que essa conversa teve efeitos biológicos em mim e no mundo: os banhos agora demoravam mais, já que entre todas as etapas – sabonete, shampoo, condicionar e uma eventual barba a fazer – eu colocava o gorro de molho para lavar.
            E esqueci novamente o assunto. Passei a lavar apenas uma vez por banho, inconscientemente, como todos os banhos são, e segui rumo da vida. E final de semana passado o maldito assunto reapareceu. Desta vez minhas amigas judias estão perdoadas: foi um amigo não-judeu. Mas dessa vez eu nem assustei – eu entrei em pânico. O cara foi anestesiado, tiraram a malha de inverno da cabeça dele, e vários pontos da cirurgia, vários, remendando tudo. E ficaram 15 dias por lá, te atormentando a cada segundo. Ele evitava beber qualquer líquido, para evitar fazer xixi. Mas o pior: a ereção causava uma dor absurda, daquelas que os religiosos fervorosos se orgulhariam e diriam “Viu? Fazer isso é errado!”. Quando ele contou que acordava com dores agoniantes depois de uma ereção noturna, eu decidi que já tinha escutado de tudo sobre o assunto e que tudo bem, ser católico não era tão ruim assim.

            Fico pensando se virá mais alguma alma, bondosa ou nem tanto, e me contará uma quarta história sobre o tema que me faça ter algum tipo de reação. Enquanto isso, cultivarei para sempre meu gorro-de-malandro.

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